quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Ativos do verbo escrito


 Amado, despejando daqui a necessidade de troca:

Reservei estas horas para um encontro comigo mesma. Pausei.Refoguei o alecrim, alfazema e artemísia… refresquei o tempo. Segue a noite. Os vaga-lumes e uma infinidade de insetos, que vieram com a primavera, compartilham do barulho do teclado. A fumaça do palheiro e alguns incensos. Um candeeiro e o meu vizinho de porta . Seu ritmo incessante, sua força, sua doçura, sua leveza e sempre que o encontro, sinto algo de magia… mergulho. Ah, o convívio com  o rio ! Como descrever o discurso das águas ? E  ainda ouço um cão ao longe, insistente em latir e o ronco da pretinha,  exausta do frevo-cadela, dia inteiro com a matilha aqui no córrego (rsrsrrs). 

Tenho que contar do meu vizinho. Tá, chamam ele de córrego do Urubu. Mas, ainda preciso batiza-lo. Porque me canta seus outros nomes…Neste tempo,  é como um íntimo, nos afagamos sem invasão. Ele uma tatuagem cheirosa nessa serra, fincada no meio da capital do maior país da América Latina. Tenho muito orgulho da resistência do meu vizinho de porta, nela pode a bicharada, pedreira, peixinhos e as folhas. Pode borboleta tudo de tamanho e cores … e essa comunidade do rabicó luzido que enfeita a noite. E o que é esta força que faz ele correr ? É a mesma que pulsa o seu, o nosso coração. Simplesmente corre e pulsa.Não dominamos,nem comandamos, nem inventamos… vem de outro canto.Dai a fé. Porque vira dia e noite, esta mesma força. Quando passa a cada segundo na minha porta já é outro, e outro e outro… Como os pensamentos meus…  Penso em  você infinitas vezes, sou outra. Canto quando quero puxar prosa, ali na beirinha sussurro meus segredos de cócoras e ele me reflete os cabelos, preu pentear, a mim mesma, enquanto sopro. E assim, me toma,bebo e banho. Entornamos. Sorriso chamamos Rio, em primeira pessoa. E vivo assim, conforme a lua deságuo,num quarto é sangue, e em qualquer fase, conforme me tocas (e sabes bem) encharco… Rio !

 Aqui vivemos. Entre contornos.Pensei muito no presente.Hoje permiti o banho de sol e, dançando, as árvores vieram tomar comigo. Ali no adorável colo do alto da pedreira. Balançavam … era o vento. Como tocasse o derbake e cada tronco e copa no bailado. E se eu tentar escrever mais vou enfeiar  a cena hahaha Engraçado.. me faltam palavras, me teimam, me erram, me precipitam…  Pra mim montada em tantos reversos e avessos.. esse rio - vizinho é verso, que  nunca dá sequer meia volta. Segue. Certeiro.Na missão de prover… oceanos. E os mares ?  Filhos dos rios… parei o devaneio na fronteiras dos oceanos… matutei um bocado de tempo sobre o poder de delimitar o espaço… nesta peleja entre espaço e mar. Parei  nas ondas que teimam em ir e vir…  rompendo o que lhes foi dado por limite, insistindo (em toadas) no avançar, numa aventura de espumas. Lá onde vc oferta rosas brancas, ali onde vamos nos deliciar. Busca de ir além: praias. 

E nesta primavera a força me levou bem mais… Na língua portuguesa nomeamos a palavra sentir pra: orientação e emoção. Qual sentido levam as rosas brancas ao mar ?  Podemos deliciosamente (assim somos) brincar com vc: sentido. O sentido que faz amada.Você que encena, conversa o samba, encoraja o enredo, protege o sagrado, assobia o profano. Você que guia a essência, que reveste o bom, que recria o humor, que abraça o sono… você que me reescreve, entre gargalhadas. Minha praia.Planta a roseira, que ofertamos as rosas de amor a este mundo. Nosso berço e você doa. Sem doer, sentido. Espiritual, política e  humana: à minha existência. Rio ! 

=> aqui interrompi a escrita, paramos pra falar e transbordar de prazer. 1.174 Km entre nós. E fica o registro do seu realismo fantástico (depois de encharcar minha noite): "tecnologia a serviço do prazer" ! Tentei retomar a escrita, mas…transcendi em sono. Sonhos. Em tempo: nossas águas completam seu primeiro ciclo. Rio: há mar !

Um comentário:

  1. O nome do córrego não remete à sujeira que nele insistem em jogar, mas a antigos urubus vermelhos que habitavam a região nos tempos de antão...

    Morei 5 anos por aí, e inspirado pelo mesmo rio que te inspirou, escrevi um relato pós-moderno; leia e veja se nossos textos não são co-irmãos!

    Continue mergulhando na vida...

    Abraço do Maltrapa

    http://oantropolicomaltrapilho.blogspot.com/2009/07/pos-modernismo.html

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